Teorias e Melancolias

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A Crítica de John Milton à Doutrina da Predestinação: Liberdade, Responsabilidade e Justiça Divina em "Paraíso Perdido"

   

    John Milton, um dos maiores poetas da língua inglesa, deixou um legado literário significativo, cuja obra mais famosa, "Paraíso Perdido", não só encanta pela sua beleza poética, mas também pela profundidade de suas reflexões teológicas e filosóficas. Uma das questões centrais abordadas por Milton em sua obra é a doutrina da predestinação, uma crença fundamental da teologia cristã que ele contesta veementemente. Este artigo analisa a crítica de Milton à predestinação, explorando como sua visão ressalta a importância da liberdade humana, responsabilidade individual e justiça divina.


Contexto Teológico e Filosófico

    Para compreender a crítica de Milton à predestinação, é crucial entender o contexto teológico e filosófico do século XVII. A doutrina da predestinação, enraizada na teologia reformada de figuras como João Calvino, sustentava que Deus, em sua soberania, escolhia previamente quem seria salvo e quem seria condenado, independentemente das ações ou vontades humanas. Essa crença gerava debates acalorados sobre o livre-arbítrio, a justiça divina e a responsabilidade moral.


Crítica de Milton à Doutrina da Predestinação

    Milton expressa sua crítica à predestinação por meio de personagens e diálogos em "Paraíso Perdido".

Uma das passagens mais emblemáticas é a citação:

"Posso ir para o inferno, mas um Deus como esse jamais terá o meu respeito."

    Essa frase revela a profunda discordância de Milton com a ideia de um Deus que determina o destino humano de forma arbitrária, sem levar em conta as escolhas individuais e a moralidade das ações.


    Para Milton, a liberdade humana é um princípio fundamental, e a capacidade de fazer escolhas morais é essencial para a dignidade e a responsabilidade humanas. Ele argumenta que a predestinação mina essa liberdade, tornando as ações humanas irrelevantes e a justiça divina arbitrária. Além disso, Milton questiona a moralidade de um Deus que predestina algumas pessoas à condenação eterna, independentemente de suas virtudes ou méritos.


Alternativas Propostas por Milton

    Em contrapartida à predestinação, Milton apresenta uma visão de justiça divina baseada na liberdade humana e na responsabilidade moral. Ele sugere que Deus, em sua sabedoria e misericórdia, oferece a todos os seres humanos a oportunidade de escolher entre o bem e o mal. Nesse sentido, a salvação não é imposta de cima para baixo, mas é alcançada através do livre-arbítrio e do arrependimento genuíno.


    A crítica de Milton à doutrina da predestinação em "Paraíso Perdido" reflete não apenas suas convicções teológicas, mas também suas preocupações éticas e filosóficas. Ao destacar a importância da liberdade humana, responsabilidade individual e justiça divina baseada na escolha moral, Milton desafia concepções tradicionais sobre o destino humano e a natureza de Deus. Sua obra continua a inspirar reflexões sobre o livre-arbítrio, a moralidade e o propósito da existência humana.

Referências


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