O argumento ontológico é uma das discussões mais intrigantes na filosofia da religião, buscando estabelecer a existência de Deus com base em considerações puramente conceituais e lógicas. Sua origem remonta ao trabalho de Santo Anselmo de Canterbury no século XI e tem sido reformulado e debatido por diversos filósofos ao longo dos séculos. Este artigo analisará a evolução do argumento ontológico desde a sua formulação original por Santo Anselmo até as contribuições de filósofos posteriores, como Descartes, Leibniz e Plantinga.
Santo Anselmo e o Argumento Ontológico Original
Santo Anselmo propôs o argumento ontológico em sua obra "Proslogion" no final do século XI. Seu argumento baseia-se em uma definição de Deus como o ser supremo, o ser do qual nada maior pode ser concebido. Ele argumentou que se alguém pode conceber a ideia de um ser supremo, então a existência desse ser deve ser necessária, uma vez que a ideia de um ser supremo implica sua existência. Esse argumento é geralmente resumido nas cinco etapas:
A existência na realidade é maior do que a existência apenas na mente.
Se concebemos Deus apenas na mente, podemos conceber um ser maior, que existe tanto na mente como na realidade.
No entanto, isso levaria a uma contradição, pois Deus é definido como o ser do qual nada maior pode ser concebido.
Portanto, a concepção de Deus implica sua existência na realidade.
Críticas ao Argumento de Anselmo
O argumento de Anselmo gerou uma série de críticas ao longo dos séculos. A crítica mais fundamental é a ideia de que a mera concepção de um ser supremo não implica sua existência na realidade. O filósofo Immanuel Kant, por exemplo, argumentou que a existência não é uma característica que pode ser atribuída a algo simplesmente por definição. Além disso, críticos apontaram que a definição de Deus como o ser supremo é subjetiva e que diferentes pessoas podem ter concepções diferentes do que é supremo.
René Descartes e a Reformulação do Argumento
René Descartes, no século XVII, trouxe uma reformulação do argumento ontológico. Ele argumentou que a existência é uma característica necessária de um ser perfeito, e, portanto, a ideia de Deus como um ser supremo implica sua existência. Descartes tentou estabelecer uma base firme e indubitável para seu sistema de crenças, e o argumento ontológico foi parte dessa empreitada.
No entanto, as críticas persistiram, e muitos filósofos não ficaram convencidos pela versão de Descartes do argumento ontológico. Eles argumentaram que a existência não é uma característica intrínseca, como Descartes afirmou, e que a existência não pode ser deduzida a priori a partir da concepção de Deus.
Gottfried Wilhelm Leibniz e sua Versão do Argumento
Gottfried Wilhelm Leibniz, no século XVIII, também contribuiu para a discussão do argumento ontológico. Leibniz argumentou que vivemos no "melhor dos mundos possíveis", e, portanto, a existência de Deus é necessária para garantir a existência desse mundo perfeito. Ele formulou o argumento ontológico de forma mais teísta, buscando provar a existência de Deus com base na existência do mundo e em sua perfeição.
Alvin Plantinga e o Argumento Modal Ontológico
No século XX, Alvin Plantinga propôs uma versão contemporânea do argumento ontológico, conhecida como o "argumento modal ontológico". Plantinga argumentou que é possível que um ser necessário e supremo exista no mundo possível, o que implicaria sua existência no mundo real. Sua abordagem é mais complexa e envolve conceitos modais, como a necessidade e a possibilidade.
Conclusão
argumento ontológico, desde a sua formulação original por Santo Anselmo, tem passado por várias reformulações ao longo da história da filosofia. No entanto, ele continua sendo um tema de controvérsia e debate. Apesar das reformulações e das tentativas de fortalecer o argumento, muitos filósofos permanecem céticos quanto à sua validade. A questão central em torno do argumento ontológico é se a existência pode ser estabelecida puramente a priori, com base na concepção de Deus, ou se a existência de Deus é uma questão que vai além da análise conceitual e lógica. O debate persiste, tornando o argumento ontológico um dos temas mais fascinantes e desafiadores da filosofia da religião.
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